Teste

En salud publica, hay que ser pesimista, pero sin perder el tesón jamás.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Cólera no Haiti

Um estudo publicado no New England (clique aqui para ver o artigo completo) mostra que o mapeamento genético do Vibrio cholerae que está produzindo a atual epidemia de cólera no Haiti, já com mais de 2.100 mortes registradas, confirma que o vibrião é idêntico ao que circula no Sul da Ásia e diferente do que é encontrado  na América Latina. Esse estudo reforça a hipótese que a epidemia foi iniciada pela introdução, no Haiti, de uma cepa de V. Cholerae trazida por pessoas origin;arias de uma fonte geográfica distante.
As Nações Unidas já estão investigando se a origem teria sido um acampamento de soldados do Nepal. A conclusão da investigação é importante, não para achar culpados, mas para servir de base ao estabelecimento de procedimentos mais seguros quando do envio de missões internacionais e forças de paz, especialmente quando se destinam à locais de alta vulnerabilidade.
Ainda não li nada na imprensa sobre algum procedimento especial de vigilância epidemiológica adotado  pelo Ministério da Saúde, tendo em vista a presença de tropas brasileiras no Haiti. As péssimas condições sanitárias de diversas áreas onde vivem esses soldados, podem facilitar a transmissão da cólera quando do seu regresso, originando uma crise sanitária.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

10 anos de Expoepi e de Episus

Soube que na Expoepi que se inicia hoje haverá uma comemoração pelos 10 anos da própria Expoepi e do Episus. Fui entrevistado por jornalistas da SVS/MS para explicar como começamos as duas iniciativas. Desejo uma excelente comemoração aos que forem participar, pois, sem dúvida, são iniciativas que ajudaram a mudar o perfil da epidemiologia aplicada aos serviços de saúde no Brasil.
A Expoepi nasceu pequena, pouco mais de 200 participantes, no Hotel Nacional, e com muitas dúvidas sobre seu futuro. Hoje, está consolidada como o espaço em que os serviços de saúde realizam intercâmbio de experiências, mostram suas “boas práticas” e atualizam seus conhecimentos técnicos.
A motivação para começar a Expoepi nasceu da convicção que faltava, no calendário de eventos da saúde pública no Brasil, um evento de caráter técnico-científico voltado para os serviços de saúde. Onde eles fossem os protagonistas, estivessem nas mesas-redondas, e não apenas na platéia. Uma das coisas que sempre me emocionou, na Expoepi, é assistir, nas mostras competitivas de boas experiências, pequenos municípios apresentarem, orgulhosamente, como conseguiram superar, com dedicação, competência e criatividade, as dificuldades que todos os que trabalhamos com prevenção e controle de doenças enfrentamos.
Mais do que o mero intercâmbio técnico-científico, a Expoepi também tem servido para melhorar a “autoestima” dos epidemiologistas de serviços do Brasil, provando que é possível fazer melhor e contribuir mais para a saúde dos brasileiros. Para a equipe que comigo iniciou a Expoepi, ainda no tempo do Cenepi, e depois a continuou durante a SVS, superando inclusive algum ceticismo e questionamentos sobre sua validade, meu reconhecimento, agradecimento e parabéns. Que a Expoepi mantenha seu espírito e se consolide cada vez mais como uma referência para todos os  trabalhadores da saúde pública do país.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Desencontros no sarampo

O Brasil tem registrado casos de sarampo. Até aí não há nada anormal, pois a circulação do vírus na Europa, Ásia e África sempre tornará possível a "importação" de casos. Para evitar que se propaguem, é necessário combinar uma vigilância capaz de detectar de maneira precoce os casos; ações de bloqueio adotadas de forma oportuna; e ter altas e homogêneas coberturas vacinais em todo o país.
O registro de casos esporádicos é, portanto, natural. Entretanto, 55 casos já foram confirmados em 2010, nos estados do Pará, Paraíba e Rio Grande do Sul. A imprensa informa que há mais 70 casos esperando confirmação. Teoricamente, as coberturas vacinais do sarampo parecem indicar que não há quantidade de suscetíveis suficiente para sustentar uma transmissão, entretanto seria interessante ter esclarecimentos mais coerentes, por parte das autoridades sanitárias, sobre o que está realmente acontecendo no país.
A Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo divulgou que fará uma campanha de vacinação para todos os menores de 19 anos (a matéria completa está aqui), enquanto a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério recomenda uma "campanha de seguimento para crianças entre 6 meses e 5 anos, 11 meses e 29 dias" no caso da Paraíba (para ver a nota clique aqui).
O que está ocorrendo? A situação de São Paulo e da Paraíba são distintas ou há recomendações técnicas divergentes sobre a resposta aos casos? Se a primeira situação for a verdadeira, uma boa nota técnica, com análise epidemiológica bem fundamentada, pode esclarecer a necessidade de utilizar estratégias diferentes para enfrentar as duas situações. Caso a situação epidemiológica seja a mesma, seria preocupante ver que não há uma estratégia única, capaz de garantir orientação segura a todos os estados e municípios. Para responder de maneira adequada às crises sanitárias, é fundamental que a autoridade sanitária nacional exerça sua liderança técnica, construída com base na melhor evidência científica e capaz de garantir a participação coordenada de todos os integrantes do SUS.
No passado recente, a utilização de estratégias distintas para prevenir o sarampo (por exemplo: a divisão dos estados entre fazer ou não fazer a campanha de seguimento em 1995) contribuiu bastante para o acúmulo de suscetíveis que propiciou a epidemia de 1997/1998.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A bactéria pode até ser "super", mas a comunicação e as medidas estão confusas e pobres

Está havendo uma grande divulgação sobre os casos e mortes pela KPC, chamada, exageradamente, pelos meios de comunicação de "superbactéria". A comunicação sobre o evento está confusa desde o início, bem como as medidas anunciadas até o momento. Primeiro o Mininstério da Saúde e a Anvisa anunciaram a obrigatoriedade de prescrição médica para a compra de antibióticos. A medida é boa,  mas qual a relação com os casos que ocorreram até agora? Todos estão localizados, exclusivamente, em ambiente hospitalar, sem nenhum caso conunitário registrado. A divulgação da medida como sendo contra os casos de KPC fez uma confusão entre a resistência aos antibióticos encontrada na comunidade com a resistência encontrada em ambiente hospitalar. Essa confusão tem contribuído para criar temor população e uma avaliação superexagerada dos riscos reais para as pessoas. A identificação de um caso vira manchete nos jornais, como se, infelizmente, não ocorressem mortes por infecção hospitalar relacionadas com bactérias resistentes todos os dias.
Depois foi divulgada como medida para os hospitais, a obrigação do álcool para desinfecção das mãos. É boa medida também, mas absolutamente insuficiente, pois não existe um superálcool que elimine a necessidade de todo o conjunto de medidas para reduzir o problema da infecção hospitalar.
Espeo que não se perca essa boa oportunidade para revisar nosso sistema de controle de infeção hospitalar, que é, em sua grande maioria, burocrático e ineficiente, e estabelecer normas e capacitação dos médicos sobre uso de antibióticos profiláticos, fluxos e procedimentos que podem reduzir os riscos para essa e todas as outras (menos famosas, mas mais prevalentes) bactérias resistentes.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Preventivamente (?)

Hoje parece que foi o dia da não-comunicação na saúde pública. Além do problema com a catapora, o Ministério da Saúde informou que "preventivamente" estava suspendendo o uso da vacina anti-rábica que vinha sendo utilizada na campanha de vacinação de animais domésticos. Se vários estados já haviam informado e realizado estudos epidemiológicos que evidenciaram a produção de eventos adversos letais em quantidade muito acima do "esperado" há várias semanas, se já morreram centenas de animais e se os problemas na vacina já foram comprovados em testes com cobaias, a suspensão "preventiva" é para prevenir o que mesmo?

Catapora e (falta de) comunicação de risco

Não sei exatamente como foi a comunicação da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, se houve alguma distorção, mas o que saiu na imprensa de Brasília durante o dia de hoje sobre a catapora, foi que a Secretaria considerava que "não havia surto" e que a "situação era esperada". Esse tipo de comunicação resume bem a postura tradicional, e muito pouco efetiva, de nossas autoridades sanitárias. Diante de um evidente surto (mais de 6.000 casos e 4 mortes), ao invés de aproveitar a oportunidade para informar aos pais como proteger ou como mitigar a situação, tenta-se de todas as maneiras dizer que "tudo está normal". Para mim soa como desrespeitoso diante das mortes e pouco educativo para a população. O nosso velho dilema é que sempre comparamos casos e mortes com o passado, enquanto a população, corretamente, se pergunta como achamos normal esses casos e mortes, quando já existem tantas tecnologias para evitá-las? Já chamei isso de "paradoxo epidemiológico" porque as percepções sobre um mesmo fato são completamente diferentes.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Caso de sarampo no Pará

O Globo de ontem noticiou o primeiro caso autóctone de sarampo no país, desde o ano 2000. O caso ocorreu em Belém. Para ler a matéria clique AQUI.
Algumas considerações baseadas na nota divulgada pela Secretaria Estadual de Saúde do Pará:
1. A nota não esclarece qual a "rota de transmissão". Como não há circulação do vírus do sarampo no país, a transmissão provavelmente foi originada a partir de algum viajante que veio de país onde há circulação do vírus. Será que esse caso identificado foi o primeiro ou o único a ter se contaminado ou há outros que passaram desapercebidos? A nota não esclarece se há investigação epidemiológica para identificar esse episódio;
2. Chama a atenção a demora entre a primeira notificação (12/7), feita por uma laboratório privado, e a "chegada" da informação na SES/PA, que só ocorreu em 28/7. Dois pontos, um positivo e outro negativo: positiva a atitude do laboratório privado que notificou a vigilância quando encontrou um resultado positivo para sarampo; negativa a demora inexplicável do contato entre SMS/Belém e SES/Pará diante de uma caso de doença que está em política de eliminação, é de notificação imediata, e que tem de ser "bloqueada" rapidamente para evitar a transmissão;
3. A informação da SES/PA que há dois irmãos do caso confirmado que apresentam sintomas, mas não estão confirmados pelos exames de laboratório, desafia a inteligência epidemiológica. A chance dos dois irmãos, também não vacinados e com sintomas compatíveis com o sarampo, não terem tido a doença beira o impossível. Talvez seja para manter a estatística "baixa": é melhor ter só um caso que três!
4. Não se informa porque os 3 irmãos, todos jovens, não eram vacinados. Moradores de uma capital, nessa faixa etária, não terem tomado a vacina contra sarampo é algo que deve ser objeto de uma investigação cuidadosa para elucidar as razões;
5. A secretaria "descarta a existência de surto". Afirmação estranha para a detecção de casos de uma doença considerada com transmissão interrompida;
6. Esse caso chama a atenção para a necessidade de manter uma vigilância sensível para o sarampo. Espero que a SMS/Belém e a SES/Pará usem esse evento para avaliar as razões de tantas falhas. Melhor que qualquer avaliação burocrática, um evento como esse é uma oportunidade fundamental para ver como as coisas realmente estão funcionando na vida real.
Aguardemos os desdobramentos.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Os males da saúde

O jornal O Globo de hoje (27/7) publica matéria intitulada "Mal da Saúde não é só falta de verba". O tema é, sem dúvida, um dos mais importantes para o debate político do momento eleitoral que vivemos.
Alguns pontos sobre a matéria:

  1. Não conheço esse estudo do Denasus que aponta a má gestão como o principal problema do SUS. Busquei no sítio eletrônico do Denasus e no do Conselho Nacional de Saúde (que parece foi quem o divulgou) e não encontrei.;
  2. Não acredito que os auditores do Denasus tenham capacidade técnica para realizar avaliações de desempenho de sistemas de saúde que permitissem algumas afirmações que se atribuem a esse estudo. Esse tipo de relação causal simplória que alguns desses "estudos" estabelecem, rebaixa a discussão que deve realmente ser feita sobre a má qualidade dos serviços de saúde no país. 
  3. Pelo que foi divulgado, por exemplo, utilizaram indicadores de mortalidade, que no Nordeste devem ser olhados com extrema cautela pelo sub-registro e pela má qualidade da informação. O aumento de casos de doença de notificação, que parece também foi utilizado como sinal de "má gestão", pode ser interpretado, ao contrário, como melhoria do sistema de vigilância epidemiológica. Ou seja, análises simplistas não funcionam para problemas complexos.
  4. A discussão sobre a "má gestão" e a "falta de recursos" lembra a antiga propaganda que perguntava se uma certa bolachinha era crocante porque vendia muito ou vendia muito porque era crocante. A bolachinha, na verdade, era crocante e vendia muito. Em nosso caso, infelizmente, também é flagrante a falta de recursos e há também graves problemas de gestão. Estes últimos, por sinal, não são exclusivos do setor saúde, como parte dos adversários do aumento de recursos para o SUS tentam nos impingir.
  5. A falta de recursos na saúde, em nosso país, é um fato, por qualquer indicador que tomemos. A verdade é que é impossível cumprir os preceitos constitucionais para a saúde com o grau de inversão de recursos públicos existentes. Uma consulta rápida no sítio eletrônico da OMS sobre contas nacionais mostra bem essa realidade. Os gastos com saúde como percentual do PIB representam 8,4% no Brasil, 6,2% no Chile e 10,0% na Argentina. Parece que estamos bem, mas na verdade, enquanto no Chile 41,9% dos gastos com saúde são privados, e na Argentina 49,2%, no Brasil esse percentual atinge 58,4%. Ou seja, mais da metade dos gastos com saúde em nosso país vêm de gastos privados, a maioria deles provindo das classes média e alta pagando planos privados de saúde e dos pobres comprando medicamentos. O gasto governamental per capita com saúde é de apenas U$ 348 no Brasil, contra U$ 507 no Chile e U$ 671 na Argentina. (Nota: todos os dados são do último ano disponível, 2007 e utilizando dólares com paridade de poder de compra).
  6. Quando comparamos os gastos com saúde como percentual dos gastos totais do governo, a situação brasileira é igualmente vexatória. Enquanto na Argentina eles representam 13,9% e no Chile 17,9%, no Brasil são apenas 5,4% do total de gastos governamentais. Há algo na distribuição de prioridades brasileiras que necessita ser repensado. Lembrete importante: o Chile e a Argentina não têm sistemas de saúde com acesso universal, como o Brasil. Apesar disso, seus indicadores sanitários e de acesso a ações de saúde são melhores que os nossos.
  7. O aumento de recursos para o SUS, pelas três esferas de governo, mas basicamente pelos que têm hoje maior capacidade de aumentar gastos nessa área (o governo federal e os estaduais), é indispensável se quisermos modificar o quadro sanitário do país.
  8. Há problemas de gestão e são vários, desde a falta de sistemas modernos para monitorar e avaliar o desempenho do SUS, passando pela inexistência de gestores profissionais e chegando até a ausência de  metas claras que possam ser acompanhadas pela sociedade e evitem os factóides que os gestores de plantão sempre vão propor aconselhados pelos marqueteiros.
Esperemos que os candidatos a todos os cargos eletivos se posicionem com clareza sobre esse tema.

A íntegra da matéria de O Globo você encontra clicando aqui

Saúde e sustentabilidade

Uma pesquisa realizada pela agência Edelman, o "Estudo de Engajamento em Saúde", trouxe resultados interessantes para os formuladores de políticas em saúde pública.
A pesquisa foi realizada ouvindo 15.257 pessoas maiores de 18 anos, entre 24 de fevereiro e 8 de março, em 10 países: Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Itália, Japão, México, Reino Unido e Estados Unidos. Para alguns países, a amostra é representativa da população que acessa a internet.
Alguns dos principais achados são:

  1. A saúde junta-se ao meio ambiente como questão central para a sustentabilidade. Globalmente, 73% dos entrevistados consideram que é tão importante proteger a saúde pública como o meio ambiente. Não por acaso, esse percentual é maior entre os países em desenvolvimento. No Brasil o resultado foi 81%. Entre os desenvolvidos, apenas a Itália, com 78% ficou acima da média;
  2. 65% dos entrevistados afirmam que a sustentabilidade diz tanto respeito à saúde das pessoas como à saúde do planeta;
  3. A saúde pública e a pessoal estão convergindo em grau de interesse. 91% dos entrevistados se dizem engajados em saúde pessoal, 89% em saúde da família, 56% em saúde nacional, 55% em saúde da comunidade e 49% em saúde global. O engajamento em saúde pública é maior nos países em desenvolvimento (a pesquisa os chama de "mercados emergentes"), em adultos jovens e pessoas com maior escolaridade.
  4. As sete questões de saúde consideradas mais importantes, no nível pessoal e como problema de saúde pública foram: lutar contra o câncer (36%), garantir acesso a serviços de saúde (31%), prevenção de doenças(30%), eliminação global de doenças infecciosas(28%), resolução de problemas crônicos de saúde (22%) e o enfrentamento da obesidade (18%). A prevenção de doenças foi a prioridade nos países em desenvolvimento, enquanto o combate ao câncer ganhou nos países desenvolvidos.
  5. Informações e recomendações são importantes, mas não são suficientes para impulsionar fortes mudanças no comportamento em relação à saúde. A pesquisa detalha os fatores que as pessoas consideram importantes para motivar mudanças.
  6. Também é muito interessante que 61% dos entrevistados pensem que as empresas deveriam estar tão engajadas em preservar e melhorar a saúde pública e das pessoas quanto em preservar e melhorar o ambiente. Entretanto, apenas um terço acredita que as empresas cumpram bem seu papel nas questões de saúde.
  7. As pessoas acreditam mais que as instituições acadêmicas e as ONGs cumprem um papel adequado em temas de saúde, do que os governos, a imprensa, as escolas primárias e as empresas. Apenas na Índia e na China, o governo está bem avaliado. No Brasil, pouco mais de 40% acreditam que o governo faz bem sua parte.
  8. Há uma grande expectativa de que as empresas se engajem em temas de saúde, por meio de várias ações: assegurando que seus produtos e serviços relacionados com a saúde são acessíveis, comunicando riscos sanitários de seus produtos e serviços, ajudando seus empregados e familiares a terem uma vida mais saudável, informando a população sobre temas de saúde relacionados com seus produtos e serviços, desenvolvendo novos produtos e serviços para a manutenção e melhoria da saúde, ajudando a comunidade local, apoiando o enfrentamento da obesidade, contribuindo para a saúde global e participando das políticas de saúde pública.
Para acessar a íntegra dos resultados, clique aqui

[Esse post foi uma sugestão de Alice Mascena Barbosa]

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Iniquidades em saúde

Para os que se interessam pelo tema das iniquidades em saúde, estou postando um artigo editorial, recentemente publicado pelo Journal of Epidemiology and Community Health (JECH), que é fruto de uma oficina de trabalho sobre o tema, realizada em 2009, pelo Harvard Center for Population and Development Studies. Essa oficina foi organizada pela Prof. Nancy Krieger e tive o prazer de ser um dos participantes, ao lado de epidemiológos e outros profissionais que têm se dedicado ao tema, na América do Norte e do Sul. O artigo busca levantar alguns temas que merecem maior aprofundamento no debate sobre as iniquidades. Seu título é "Who, and what, causes health inequities? Reflections on emerging debates from an exploratory Latin American/North American workshop".
Para obter a íntegra você pode clicar aqui

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Epidemia e memória

O jornalista pernambucano Marcelo Robalinho defendeu dissertação no Mestrado em Comunicação da UFPE enfocando a dengue na mídia. A partir da epidemia de 2002, produzida pela chegada, nas terras pernambucanas, do DENV-3, o Marcelo analisa como a imprensa " vem construindo os sentidos sobre a doença ao longo da última década" e analisa "comparativamente as estratégias discursivas ao longo dos anos posteriores". Na dissertação, ele ainda explora "a questão da memória e de como as antigas pragas influenciaram - e ainda influenciam - os sentidos criados pela mídia ao abordar doenças infecciosas nos dias atuais." 
O tema é muito atual e interessante para todos que se interessam por saúde pública. Muitas vezes as relações entre imprensa e autoridades sanitárias parecem um jogo dos "sensacionalistas" contra os "escondedores". Várias autoridades acusam a imprensa de "sensacionalista", porque gostariam de transformar a mídia em uma espécie de boletim oficial que divulgasse apenas mensagens positivas. ALém disso, muitas vezes, escondem efetivamente seus erros e falhas. Autoridades mentindo, em nossa cultura, infelizmente nunca foi considerado como um grande pecado. O pior, entretanto, é se aceitarmos que se legitime a mentira sobre a situação sanitária.
A imprensa, por outro lado, muitas vezes é mesmo sensacionalista, por despreparo técnico para julgar as informações relevantes; por buscar estabelecer relações causais simplórias, ao gosto da maioria dos leitores; ou por vontade de vender mais jornais. Entretanto, como já se disse, o que devemos exigir é uma imprensa livre, e não a imprensa que só publique o que gostamos. E, a bem da verdade, nossa imprensa, em geral, tem uma atitude muito positiva com temas de saúde, às vezes até ingênua. Os exemplos são vários.
Estou entre os que concordam com a importância que a chamada "comunicação de risco", quando utilizada adequadamente, apresenta para uma moderna e eficaz ação de prevenção e controle de doenças. Muitas vezes, nós epidemiologistas e sanitaristas, não sabemos interpretar os anseios, temores, desconfianças e outros sentimentos que a sociedade apresenta diante de uma epidemia e que são refletidos na imprensa. Nossa reação, às vezes, é querem comparar essas reações subjetivas com dados e aí podemos dizer bobagens como " morreram apenas...", ou "essas mortes são em número menor ao que ocorreu no passado"..., ou ainda, "esses casos e mortes não configuram uma epidemia, apenas um aumento esperado"... e outras bobagens do gênero.
Quem quiser ler a dissertação do Marcelo, o que recomendo pela importância do tema e seriedade da pesquisa realizada, pode clicar aqui.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Mortalidade infantil, mortalidade na infância e Metas de Desenvolvimento do Milênio

No último dia 24 de maio foi publicado no prestigioso jornal científico "The Lancet", um excelente artigo (clique aqui para obter o artigo na íntegra) avaliando a tendência da mortalidade neonatal, pós-neonatal e na infância, de 187 países, desde 1970 até 2010. O artigo traz ainda projeções sobre o cumprimento da Meta de Desenvolvimento do Milênio 4 (reduzir a mortalidade na infância).
O artigo foi amplamente divulgado na mídia brasileira a partir de uma matéria preparada pela BBC Brasil e que foi reproduzida em vários veículos de imprensa. Você pode acessar a matéria da BBC Brasil, clicando aqui
Por sugestão da Prof. Juliana Ferraz, faço alguns comentários sobre o artigo do The Lancet e a repercussão na imprensa nacional:
1. Primeiro uma questão conceitual. A matéria que foi divulgada em todo o Brasil faz uma confusão entre mortalidade infantil (em menores de 1 ano) e mortalidade na infância (em menores de 5 anos), talvez por problema de tradução equivocada. Essa questão é muito importante porque as causas das mortes infantis e das mortes na infância podem variar muito, dependendo do nível em que se encontram. Taxas reduzidas de mortalidade na infância significam que as mortes que ocorrem de 1 até os 4 anos, 11 meses e 29 dias já foram quase totalmente evitadas e os valores, portanto, são quase os mesmos da mortalidade infantil, ao contrário dos países com altas taxas de mortalidade na infância.  A mortalidade na infância, assim como a mortalidade infantil pós-neonatal, particularmente em países pobres, é muito relacionada com mortes por diarréias, pneumonias e outras doenças transmissíveis, produzidas pelas precárias condições de vida, falta de acesso à agua e ao saneamento, baixas coberturas vacinais e falta de acesso aos serviços de saúde. A mortalidade infantil, por sua vez, nos países de renda média e alta, já é relacionada, principalmente, com os problemas na cobertura e na qualidade da atenção à gravidez, ao parto e ao recém-nascido, porque ocorrem, principalmente no período neonatal. Em nosso país, por exemplo, dois terços das mortes infantis ocorrem antes dos 27 dias de idade.
2. É necessária uma certa visão crítica do tratamento estatístico dado pelos autores. Eles fizeram um esforço imenso, e tecnicamente consistente, para produzir esses indicadores a partir de distintas fontes (dados censitários, registros vitais etc.). Entretanto, quando o ponto de partida (os dados primários) são de qualidade muito distinta, mesmo os melhores processos de modelagem e de estimação podem apresentar problemas. Não parece consistente, por exemplo, que a China e a Colômbia tenham uma mortalidade na infância menor que a brasileira, porque o Brasil apresenta melhores condições que esses países para todos os determinantes das mortes na infância (cobertura de água e esgoto, cobertura vacinal, cobertura de atenção primária de saúde etc.).
3. É importante também avaliar com cuidado os resultados obtidos no período, não se limitando a quem vai cumprir ou não a meta, com base apenas no percentual de redução. Quanto maior a taxa de mortalidade na infância apresentada no início do período, mais ela é suscetível a uma redução acentuada utilizando-se as estratégias e mecanismos já disponíveis. Por outro lado, taxas de mortalidade na infância muito baixas, são encontradas onde as mortes já são quase totalmente relacionadas com mal formações congênitas e outras causas perinatais de difícil redução, além do patamar em que já se encontram, com os conhecimentos atualmente disponíveis. Por exemplo, o Japão, segundo o estudo publicado no The Lancet tinha uma taxa de 6,6 p/10.000NV, em 1990, e estima-se que tenha 3,3 p/10.000/NV, em 2010, uma redução de 50%. Já o Nepal, tinha 137,3, em 1990, e estimados 47,3, em 2010, obtendo uma redução maior, de 65%. Apesar disso, o risco de uma criança morrer antes de completar 5 anos, no Nepal, ainda é 14 vezes maior que uma criança japonesa. Por isso é bom avaliar bem as tendências de cada componente.
4. É positiva a redução apresentada pelo Brasil na mortalidade na infância e na mortalidade infantil. Vários estudos têm apontado os múltiplos fatores envolvidos: redução no número de filhos por família, maior escolaridade das mães, acesso à atenção básica de saúde, acesso à água e ao saneamento, entre outras. Entretanto, nosso índice de mortalidade na infância, estimado em 19,9 p/1.000 NV, para 2010, ainda é muito superior a outros países da América Latina, como Costa Rica (8,7), Argentina (12,9) e Chile (6,5). Além disso, a desigualdade entre os Estados e as Regiões ainda é muito importante. No estudo não há dados para os níveis sub-nacionais, mas se tomarmos a mortalidade infantil como referência, a Região Nordeste, com 29,8 p/1000NV, ainda apresenta uma taxa que é maior que o dobro da apresentada pela Região Sul, 13,34 p/1000NV e o risco de uma criança nascida no Maranhão morrer antes de completar um ano ainda é 143% maior que o apresentado no Distrito Federal.
Vale a pena uma leitura do artigo e recomendo também, para conhecer bem a situação brasileira o capítulo que estuda a mortalidade infantil no Saúde Brasil 2008, disponível no sitío do Ministério da Saúde.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Mais dengue, agora no O Globo

O jornal O Globo dessa segunda-feira (31 de maio) publicou matéria sobre a dengue com uma entrevista em que faço alguns comentários e propostas.
Para acessar a matéria e ouvir a íntegra da entrevista, clique aqui.


MOSQUITO AMPLIA RAIO DE AÇÃO
Dengue já afeta mais de 4 mil municípios
Publicada em 31/05/2010 às 03h55m
Roberto Maltchik e Marcelo Portela

BRASÍLIA e BELO HORIZONTE - Diante de uma rotina de armadilhas e descaso, os 60 mil agentes do batalhão de combate à dengue em todo o país perdem lentamente a guerra contra o Aedes aegypti. Fortalecido pelo crescimento desordenado e pela precariedade do saneamento básico na periferia das grandes cidades, o mosquito amplia a cada ano seu raio de ação e faz crescer a sua lista de vítimas. A prova de que as ações adotadas por União, estados e municípios para controlar a dengue são insuficientes se revela com o aumento de localidades com focos da doença. Em 1995, 1.752 cidades estavam infestadas. Hoje, são 4.005 municípios com criadouros do mosquito.

Ouça entrevista com especialista que sugere medidas para combater a doença
Desde 1990, o transmissor do vírus da dengue deixou para trás um rastro de 5,8 milhões de infectados, sendo 46% nos últimos cinco anos. Em 20 anos, 1.772 pessoas morreram de dengue no Brasil.

As pessoas armazenam água em caixas d'água destampadas ou com a tampa quebrada. Há dificuldades para os agentes entrarem nas casas
Criado na água limpa e parada, e alimentado pelo sangue humano, o Aedes aegypti encontra no calor do país tropical o ambiente dos sonhos: 13,8 milhões de pessoas sem água encanada; 67 mil toneladas de lixo com destinação inadequada e 81% da população vivendo em áreas urbanas. Quatro variantes da dengue já circulam no país, e a violência e a desinformação levam milhares de brasileiros a fechar as portas aos agentes de saúde.

- Geralmente, na periferia das grandes cidades é onde você encontra essas circunstâncias. As pessoas armazenam água em caixas d'água destampadas ou com a tampa quebrada. Há dificuldades para os agentes entrarem nas casas - explica o ex-gerente de Vigilância e Prevenção de Doenças da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Jarbas Barbosa.

Mais grave é a situação de quem depende do Sistema Único de Saúde para se salvar da dengue hemorrágica, que demanda internação imediata. Segundo a Associação de Medicina Intensiva Brasileira, 20 estados têm menos leitos em UTIs que o recomendado pelo Ministério da Saúde, insuficiência que atinge integralmente o Norte e o Nordeste.

Leia a íntegra desta reportagem na edição digital do GLOBO desta segunda-feira (exclusivo para assinantes)

Leia mais:

Rio pode ter epidemia da dengue tipo 1 no verão

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Algumas reflexões sobre a dengue

Foi publicada, no Jornal do Commercio do domingo (23/05), uma entrevista onde exponho alguns pensamentos sobre a situação atual da dengue.Reproduzo abaixo a entrevista para os poucos que não lêem o JC. Digo poucos porque o JC, assim como sua co-irmã Rádio Jornal do Commercio, é "Pernambuco falando para o mundo".
Abaixo o texto da entrevista, feita pela dublê de jornalista e sanitarista Veronica Almeida.

“Vamos ter de novo surtos do tipo 3”
Publicado em 23.05.2010


O médico sanitarista pernambucano Jarbas Barbosa está de volta ao Brasil, depois de dedicar três anos à Organização Pan-Americana de Saúde, nos Estados Unidos. Agora é consultor concursado do Senado, onde pretende colaborar na produção de leis para aperfeiçoar o SUS. Lançou blog (jarbasbarbosa.blogspot.com) para discutir a saúde pública brasileira que, segundo ele, “vive etapa muito pouco crítica, com uma espécie de condescendência corporativa reinando e impedindo o debate”. A seguir, avalia o atual estágio da dengue.

JC – Último boletim do Ministério da Saúde apontou aumento de 76% nos casos de dengue no Brasil. Voltamos a perder a guerra para a doença?
JARBAS BARBOSA – Dengue é doença muito complexa. Parece conversa de sanitarista para explicar fracassos da saúde pública, mas, nesse caso, é pura verdade. O Aedes aegypti encontrou condições extremamente favoráveis para sua multiplicação na vida moderna. São necessários programas permanentes de prevenção e controle, incluindo fortíssima mobilização social, o que representa enorme desafio. A maneira de avaliar o que está acontecendo com a doença não é simples. A redução do número de casos de um ano para o outro não significa êxito nas ações de controle.

JC – Como assim?

JARBAS – A transmissão da dengue é tão rápida que o surto num verão é suficiente para reduzir drasticamente o número de pessoas suscetíveis àquele tipo de vírus no ano seguinte. A diminuição no número de casos produz falsa sensação de que a doença está sob controle, mas se a população de mosquitos continua a mesma, é só uma questão de tempo para que outro vírus produza novo surto. A melhor maneira de saber se o programa de controle da dengue está funcionando é monitorar as larvas do mosquito. Não creio que perdemos a guerra, mas a batalha tem que ser permanente. Quem relaxa, pensando que o problema acabou, perde feio da dengue.

JC – Por que o vírus DENV1 volta a atingir a população?

JARBAS – O DENV1 e o DENV 2 circularam no Brasil, com muita força, há dez ou 15 anos. Nos anos seguintes, como não havia mais pessoas suscetíveis, foram substituídos pelo DENV 3. Agora, todas as crianças que nasceram posteriormente àquela circulação dos vírus 1 e 2, e que não tiveram contato com eles, estão adoecendo. O DENV 2 já havia propiciado surtos de 2007 a 2009, e agora, o DENV 1 é o principal responsável pelos casos de 2010, por esse mecanismo de ressurgimento. Daqui a alguns anos, vamos ter, de novo, surtos pelo DENV 3.

JC – Ambientalistas consideram a dengue fruto do desmatamento. O uso de larvicida químico em substituição ao biológico, determinado pelo Ministério da Saúde com apoio da Opas, não faz a natureza e o homem pagarem duplamente pelo problema?

JARBAS – Não é só o desmatamento, mas a formidável adaptação do Aedes aegypti às condições ambientais em que vivemos. Basta um vaso de planta, uma calha entupida, uma sacola plástica descartável para oferecer novos criadouros. Cerca de 80% das pessoas vivem em área urbana, muitas em habitações precárias, sem coleta de lixo e com acesso intermitente a água encanada. Além disso, 30% da população não permitem vistoria em suas casas. Se houver larva nos 30%, o trabalho será ineficaz, mesmo que nos 70% tenha sido magnífico. O larvicida e o inseticida continuam importantes, são necessários, mas não suficientes. Larvicidas químicos usados atualmente não oferecem risco à saúde, desde que seja observada a recomendação técnica de forma estrita, para evitar abusos como o do fumacê, que pouco ou nada acrescenta, exceto em situação muito específica de alta transmissão.

JC – Não seria mais lógico fazer campanha em favor das florestas, do saneamento básico, da educação e do uso de métodos não agressivos ao ambiente ?

JARBAS – Concordo inteiramente que ação mais decisiva para melhorar a infraestrutura urbana, principalmente no acesso à água encanada, retirada do lixo, fiscalização sobre pontos de alto risco e informação para que cada família saiba como manejar seu próprio ambiente doméstico, faria diferença tremenda no controle da dengue.

JC – Quais as perspectivas mundiais ?

JARBAS – A dengue é uma doença em expansão porque as condições favoráveis ao mosquito são globais e não existe intervenção ou ferramenta capaz de erradicá-la. Por outro lado, é possível mantê-la sob controle, com combinação inteligente do trabalho dos agentes de saúde ambiental com a mobilização comunitária e as intervenções do poder público no espaço urbano. Além disso, é fundamental preparar serviços de saúde para identificar rapidamente os casos tendentes ao agravamento, para evitar mortes. Há vacinas em estudo. A mais próxima de virar realidade ainda deve demorar pelo menos uns cinco a sete anos.

JC – O senhor comandou por mais de uma década o setor de epidemiologia no Ministério da Saúde, criando novos instrumentos de ação. O que impede Estados e municípios de praticarem boa vigilância das doenças?

JARBAS – Nos últimos anos melhorou muito a capacidade do Brasil em vigilância. Recursos foram aumentados, criaram-se cursos, fortaleceram-se laboratórios de saúde pública. Mas há muito que melhorar. Infelizmente, somente quando surge epidemia de dengue ou de gripe os tomadores de decisão reconhecem que a vigilância é essencial. Porém, em épocas sem surtos ou epidemias, sempre há disputa por recursos da saúde. Creio que num sistema descentralizado, como o SUS, um dos grandes papéis do ministério é apoiar tecnicamente os Estados e municípios, e, monitorar se as ações de vigilância estão sendo realizadas. No Brasil, a capacidade de implementar ações e o compromisso político entre os mais de 5.500 municípios têm variação imensa.

JC – Das áreas do controle da dengue – vigilância ambiental, epidemiológica e assistência médica – qual a mais fragilizada no Brasil?

JARBAS – Um bom programa de controle da dengue exige integração. O trabalho de campo para eliminar focos tem que estar integrado com a epidemiologia, que conta os doentes. Já assisti a situações, em municípios do Sudeste, onde a vigilância epidemiológica produzia mapas lindíssimos, mas a ação dos agentes de controle de vetores continuava com programação burocrática, feita seis meses antes, sem agir para controlar os epicentros de surtos. A assistência médica também é fundamental. Com a sucessiva circulação de vários vírus no Brasil, a taxa de casos graves e hospitalizados cresceu, entre 1998 e 2008, de 2,7 para 22,2 por 100 mil habitantes, aumentando a tendência de impactos sobre os serviços de saúde e de mortalidade.

JC – O Brasil pesquisa sobre dengue. Há experiências simples e exitosas em diferentes Estados, como aspiradores de mosquito, ovitrampas etc. Por que não é possível massificar as soluções?

JARBAS – Infelizmente, não só para a dengue, mas em saúde pública nossa capacidade de testar, com rigor científico, as soluções inovadoras e ver o que efetivamente pode ser incorporado ao dia a dia dos programas ainda é muito falha. Não existe a integração que seria desejável entre os centros de pesquisa com as necessidades do sistema de saúde. Na busca de dar “boa notícia”, pesquisadores anunciam coisas absolutamente inviáveis, como o uso da borra do café para matar larvas, entre muitas outras que colecionei nesses anos.

JC – No blog que acaba de lançar, o senhor diz que “En salud publica, hay que ser pesimista, pero sin perder el tesón jamás”. Por que ser pessimista é importante?

JARBAS – Essa frase é originada do pensamento formulado pelo filósofo e ativista italiano Gramsci, que disse algo como “a razão deve ser pessimista e a vontade deve ser otimista”. Em saúde pública, análise fria e embasada tecnicamente jamais pode ser substituída pela ‘torcida’. Na pandemia de influenza, isso ficou muito claro. Ministérios que confundiram realidade epidemiológica com sua ‘torcida’ para que a pandemia não chegasse a seus países, não se preparam e tiveram centenas de mortes evitáveis. Na dengue, é semelhante. Avaliação de riscos deve sempre checar os piores cenários possíveis. É o momento do pessimismo. Na hora da ação é que se deve colocar a vontade e a garra que movem a saúde pública.

sábado, 22 de maio de 2010

Estatísticas de Saúde 2010

A Organização Mundial da Saúde (OMS) disponibilizou as Estatísticas de Saúde 2010. Está disponível nas 6 línguas oficias da OMS e traz um conjunto de indicadores de mortalidade e carga de doenças; mortalidade por causas específicas e morbidade; doenças infecciosas selecionadas; cobertura dos serviços de saúde; fatores de risco; força de trabalho, infraestrutura e medicamentos essenciais; gastos com saúde; desigualdades em saúde; e demografia e estatísticas socioeconômicas.
Apesar de problemas com algumas estimações, é uma fonte valiosa porque permite comparações entre países, sendo uma publicação essencial para sanitaristas, epidemiológos, interessados em saúde global e afins.
Você pode acessar os arquivo clicando aqui

terça-feira, 11 de maio de 2010

A Saúde também pode mais.

A Folha de São Paulo publicou hoje (11/05) um excelente artigo de Renilson Rehem com o título de "A Saúde também pode mais".
O artigo faz um balanço dos avanços do SUS nos últimos anos e aponta desafios importantes, como o subfinanciamento agudo que impede, na vida real, o acesso universal e integral da população, como manda a constituição.
O artigo é posicionado politicamente e convida ao debate de idéias sobre as prioridades para a saúde no Brasil nos próximos anos. Algo muito bom, e raro, nesses tempos de condescendência e de falta de espírito crítico.
Quem é assinante da Folha ou do UOL pode acessar a íntegra do artigo clicando aqui.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Pandemia de Influenza, atualização semanal da situação das Américas

A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) divulgou a nova atualização semanal da situação da pandemia (H1N1), com dados até o dia 3 de maio, recolhidos dos Ministérios da Saúde.
Em resumo, a situação é a seguinte:
Na América do Norte, as doenças respiratórias agudas continuam com comportamento estável e com ocorrência menor do que o esperado para essa época do ano, na maioria das áreas. [comentário meu: Depois da ocorrência de 2 picos, nos EUA e Canadá, e 3 no México, em 2009, além da vacinação massiva, a transmissão está muito baixa. Esse cenário persistirá, caso se mantenha a estabilidade do vírus A H1N1].
Nos países do Caribe foram notificadas tendências decrescentes ou sem alterações, para as doenças respiratórias agudas, exceto para a Jamaica, que informou tendência crescente. [comentário meu: no Caribe não existe inverno bem marcado o que não facilita a ocorrência de picos na transmissão dos vírus da influenza. O risco para esses países é a ocorrência de surtos em navios de cruzeiro, que podem sobrecarregar o sistema de saúde das ilhas menores, particularmente para leitos de UTI e respiradores].
Na América Central, El Salvador, Guatemala e Panamá informaram que há uma tendência crescente de doenças respiratórias agudas. [comentário meu: a América Central tem características para a transmissão dos vírus da influenza semelhantes ao Caribe e à área tropical e subtropical da América do Sul. Não se observam picos importantes de transmissão ao longo do ano. A preocupação deve ser manter a vigilância para identificar a ocorrência de surtos que, mesmo com um número não muito elevado de casos, podem produzir casos graves e mortes, sobrecarregando os sistemas de saúde e produzindo pânico na população].
Os países da América do Sul notificaram tendências decrescentes ou sem alterações para as doenças respiratórias agudas, exceto na Bolívia, que informou uma tendência crescente. [comentário meu: a preocupação para a América do Sul deve ser a chegada do inverno na sub-região do Cone Sul. No ano passado, foi nessa área, especialmente no Chile, Argentina, Uruguai e Sul/Sudeste do Brasil onde ocorreram picos importantes, com a produção de muitos casos graves e mortes. É impossível prever se, depois do primeiro pico, em 2009, onde estima-se que de 15% a 20% da população pode ter sido infectada, e das campanhas de vacinação realizadas, haverá um segundo pico e qual será a sua intensidade. Caso se repita o observado na América do Norte, o segundo pico deverá menor que o primeiro. Entretanto, em saúde pública deve-se ser pessimista, como diz a máxima desse blog, e é bom revisar o estoque de equipamentos de proteção individual para os profissionais de saúde, kits de laboratório, oseltamivir e todos os itens dos planos de contingência].
No Canadá, Chile e Estados Unidos, 95,8% dos virus de influenza A subtipificados foram
de influenza pandêmica (H1N1) 2009. [comentário meu: continua a valer a orientação de que adolescentes e adultos com sintomas de gripe devem ser tratados como portadores do vírus da influenza pandemica. O "erro" produzido pelos poucos casos de gripes por outros vírus de influenza será tão pequeno, que não se justifica esperar por exames confirmatórios].
Foram notificadas 41 novas mortes confirmadas pelo novo vírus, em 6 países. No total, desde o início da pandemia foram registradas 8.357 mortes na Região das Américas. [comentário meu: essas mortes recentes, geralmente em áreas tropicais e subtropicais, em sua maior parte são reflexo da falta de acesso oportuno aos serviços de saúde e ao tratamento com o oseltamivir].
O boletim completo pode ser visualizado se você clicar aqui

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Algumas informações sobre o blog

Prezados
Algumas pessoas me escreveram e-mails informando que não estavam conseguindo postar comentários. Creio que resolvi isso mudando algumas configurações, mas vou testar para ter certeza. Problemas de blogueiro de primeira viagem.
Em troca de e-mails com o Gilson Carvalho, ele pergunta quem é o autor da frase "En salud publica hay...". O autor sou eu mesmo, mas nela não há muita criatividade. É somente a adaptação de um pensamento do Gramsci (aquele sobre o pessimismo da inteligência e o otimismo da vontade) à realidade da saúde pública, "embrulhada" como a célebre frase do Che ("hay que endurecerse....").
A idéia dessa frase nasceu em uma apresentação que fiz na OPAS para a Ministra de Saúde da Espanha, sobre a situação da influenza nas Américas. Quando ela me perguntou como explicar a diferença de resultados na resposta dos países, respondi algo parecido com essa frase, explicando que os que se prepararam para o pior, foram bem sucedidos, enquanto os que confundiram sua torcida ("aqui não vai chegar") com a necessária avaliação de risco epidemiológico, se deram muito mal. Ou melhor, sua população se deu mal, como demonstrado pelas mortes absolutamente evitáveis que deixaram ocorrer.
Uma idéia excelente do Gilson foi de preparar um texto sobre o papel da epidemiologia no planejamento do SUS e publicar aqui para que debatamos o tema. Outras contribuições serão muito bem-vindas.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Estudo mostra que uso de oseltamivir poderia ter evitado mortes de grávidas por influenza

O Brasil apresentou uma importante mortalidade de mulheres grávidas com influenza A H1N1, mais de 200 mortes, enquanto em outros países, como o Chile (para não comparar com países desenvolvidos) os números foram muito menores. No Chile apenas 1 mulher grávida morreu pela influenza, o que produz uma taxa de mortalidade muito baixa, semelhante a do Canadá e de outros países que tiveram uma atitude mais agressiva quanto ao uso precoce do oseltamivir em todos os pacientes sintomáticos. Mesmo se calcularmos a taxa de mortalidade, para poder comparar populações tão diferentes, os dados do Brasil são exageradamente altos, inclusive em estados que não têm inverno bem marcado, como o Pará.
Recentemente, foi divulgado o primeiro estudo, com dados dos Estados Unidos, onde sugere-se que o tratamento precoce com o oseltamivir evitou mortes de mulheres grávidas. As famílias dessas mais de 200 jovens mortas certamente desejariam que no Brasil tivesse sido usado o mesmo protocolo.
Recomendo a leitura. O artigo completo que foi publicado no JAMA sob o título "Pandemic 2009 Influenza A(H1N1) Virus Illness Among Pregnant Women in the United States" pode ser visto se você clicar aqui

terça-feira, 13 de abril de 2010

Por que o Epidemiologia Casual?

Porque penso que é necessário criar um espaço para informar e comentar temas de saúde pública e de epidemiologia do Brasil e do mundo.
O "casual" do título tem um duplo sentido: pretendo escrever em linguagem casual, de maneira a ser entendido não só por meus colegas epidemiológos, e também porque quero contar e comentar alguns "causos" interessantes e que podem ajudar a compreender os temas que serão tratados.
O que for tratado aqui, o será de forma franca e direta, com base em informações e conhecimentos disponíveis.
Espero que vocês desfrutem e participem, enviando comentários para os temas que lhe interessarem.

sábado, 3 de abril de 2010

Mitos e verdades sobre as doenças crônicas

A Folha de São Paulo publicou na sua edição de domingo (25/04) um artigo meu sobre o tema das doenças crônicas. O texto integral segue abaixo:

No próximo mês de dezembro, as Américas contabilizarão a ocorrência de 21 milhões de mortes na primeira década do século XXI, por doenças crônicas. No mundo inteiro, a hipertensão, diabetes, acidente vascular cerebral (AVC), doenças cardíacas e cânceres já são responsáveis por 2/3 de todas as mortes que ocorrem, com alto impacto sobre os sistemas de saúde e sobre as sociedades.
Alguns mitos sobre as doenças crônicas distorcem a percepção social da sua gravidade e retardam o fortalecimento de programas abrangentes, integrados por medidas preventivas e de ampliação do acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento oportuno.
Esses mitos não resistem à análise dos dados e das evidências científicas disponíveis, como mostramos abaixo.
O primeiro mito é o de que as doenças crônicas matam pessoas que já são muito idosas. É falsa a idéia de que as mortes por doenças crônicas são sempre o desfecho natural de uma longa vida, especialmente nos países em desenvolvimento. Na Bolívia, quase 40% das mortes por AVC acontecem em pessoas com menos de 65 anos, enquanto no Canadá esse percentual é de apenas 8,6%. No Brasil, são 28,7%. Esses altos percentuais de mortes precoces revelam que portadores de hipertensão arterial não têm acesso ao diagnóstico e a tratamento, e que há problemas na qualidade do atendimento dessas emergências. Ambas as condições podem ser superadas com a adoção de estratégias adequadas.
Outro mito sobre essas doenças é o de que não temos como prevenir, já que não existem vacinas. Ao contrário, ações de promoção da saúde, de redução dos fatores de risco e de aumento da cobertura do diagnóstico precoce são capazes de prevenir a ocorrência e a mortalidade por várias doenças crônicas.
Estima-se, por exemplo, que a combinação de medidas regulatórias com campanhas educativas para reduzir a ingestão de sal - na mesa e nos alimentos industrializados -, evitaria 8,5 milhões de mortes no mundo, durante a próxima década.
Muito antes de surgirem vacinas contra o vírus do papiloma humano (HPV), vários países já haviam reduzido drasticamente a mortalidade por câncer cérvico-uterino, utilizando a estratégia de universalização do exame preventivo e o tratamento em estágio inicial. Nos Estados Unidos e no Canadá, esse tipo de câncer é responsável por 2,5 mortes por grupo de 100.000 mulheres, enquanto nos países da América do Sul, essa taxa é cerca de cinco vezes maior.
A redução da mortalidade por doenças cardiovasculares, verificada nas últimas décadas em quase todos os países do mundo, é outro exemplo do êxito de medidas para prevenir fatores de risco, como o tabagismo, combinadas com a melhora na atenção médica.
O terceiro mito é o de que as doenças crônicas são doenças de ricos, os países em desenvolvimento e os pobres ainda não precisam se preocupar com elas. Os fatos apontam para outra direção.
Os países de média e baixa renda respondem por 80% de todas as mortes registradas no mundo por doenças crônicas, e apresentam tendência crescente. A explicação não é difícil. Os principais fatores de risco para doenças crônicas, como o tabagismo, a obesidade, consumo deficiente de frutas e verduras e o sedentarismo, mostram tendência de crescimento nos mais pobres e menos educados.
Dados da recente Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad) revelam que, entre os que têm menos de um ano de instrução, apenas 9,5% praticam esportes ou exercícios físicos, e 25,7% fumam. Para comparar, entre as pessoas com 11 ou mais anos de estudo, 37% são ativos fisicamente, e o tabagismo reduz-se para 11,9%.
O diagnóstico precoce também é menos freqüente entre os mais pobres, que têm mais dificuldade de acesso aos serviços de saúde. Na Pnad encontrou-se que 25,3% das mulheres com mais de 40 anos, nunca fizeram uma mamografia. Essa média nacional, entretanto, esconde desigualdades importantes. Entre mulheres com renda maior que cinco salários-mínimos, 18,9% nunca fizeram esse exame. Porém, entre as de renda inferior a 1/4 do salário-mínimo, esse percentual é de 71,2%. Esse mesmo padrão iníquo repete-se em todos os exames preventivos para doenças crônicas, na maioria dos países da América Latina.
Urge romper esse círculo vicioso, que faz os mais pobres adoecerem mais por doenças crônicas, terem sua produtividade reduzida e seu gasto com medicamentos aumentado, o que contribui para aprofundar sua própria pobreza.
Os avanços já obtidos, e o conhecimento atual, exigem o fortalecimento das ações e a adoção de novas e mais efetivas estratégias para responder ao enorme desafio das doenças crônicas.

O link para o artigo está aqui