Teste

En salud publica, hay que ser pesimista, pero sin perder el tesón jamás.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Mais dengue, agora no O Globo

O jornal O Globo dessa segunda-feira (31 de maio) publicou matéria sobre a dengue com uma entrevista em que faço alguns comentários e propostas.
Para acessar a matéria e ouvir a íntegra da entrevista, clique aqui.


MOSQUITO AMPLIA RAIO DE AÇÃO
Dengue já afeta mais de 4 mil municípios
Publicada em 31/05/2010 às 03h55m
Roberto Maltchik e Marcelo Portela

BRASÍLIA e BELO HORIZONTE - Diante de uma rotina de armadilhas e descaso, os 60 mil agentes do batalhão de combate à dengue em todo o país perdem lentamente a guerra contra o Aedes aegypti. Fortalecido pelo crescimento desordenado e pela precariedade do saneamento básico na periferia das grandes cidades, o mosquito amplia a cada ano seu raio de ação e faz crescer a sua lista de vítimas. A prova de que as ações adotadas por União, estados e municípios para controlar a dengue são insuficientes se revela com o aumento de localidades com focos da doença. Em 1995, 1.752 cidades estavam infestadas. Hoje, são 4.005 municípios com criadouros do mosquito.

Ouça entrevista com especialista que sugere medidas para combater a doença
Desde 1990, o transmissor do vírus da dengue deixou para trás um rastro de 5,8 milhões de infectados, sendo 46% nos últimos cinco anos. Em 20 anos, 1.772 pessoas morreram de dengue no Brasil.

As pessoas armazenam água em caixas d'água destampadas ou com a tampa quebrada. Há dificuldades para os agentes entrarem nas casas
Criado na água limpa e parada, e alimentado pelo sangue humano, o Aedes aegypti encontra no calor do país tropical o ambiente dos sonhos: 13,8 milhões de pessoas sem água encanada; 67 mil toneladas de lixo com destinação inadequada e 81% da população vivendo em áreas urbanas. Quatro variantes da dengue já circulam no país, e a violência e a desinformação levam milhares de brasileiros a fechar as portas aos agentes de saúde.

- Geralmente, na periferia das grandes cidades é onde você encontra essas circunstâncias. As pessoas armazenam água em caixas d'água destampadas ou com a tampa quebrada. Há dificuldades para os agentes entrarem nas casas - explica o ex-gerente de Vigilância e Prevenção de Doenças da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Jarbas Barbosa.

Mais grave é a situação de quem depende do Sistema Único de Saúde para se salvar da dengue hemorrágica, que demanda internação imediata. Segundo a Associação de Medicina Intensiva Brasileira, 20 estados têm menos leitos em UTIs que o recomendado pelo Ministério da Saúde, insuficiência que atinge integralmente o Norte e o Nordeste.

Leia a íntegra desta reportagem na edição digital do GLOBO desta segunda-feira (exclusivo para assinantes)

Leia mais:

Rio pode ter epidemia da dengue tipo 1 no verão

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Algumas reflexões sobre a dengue

Foi publicada, no Jornal do Commercio do domingo (23/05), uma entrevista onde exponho alguns pensamentos sobre a situação atual da dengue.Reproduzo abaixo a entrevista para os poucos que não lêem o JC. Digo poucos porque o JC, assim como sua co-irmã Rádio Jornal do Commercio, é "Pernambuco falando para o mundo".
Abaixo o texto da entrevista, feita pela dublê de jornalista e sanitarista Veronica Almeida.

“Vamos ter de novo surtos do tipo 3”
Publicado em 23.05.2010


O médico sanitarista pernambucano Jarbas Barbosa está de volta ao Brasil, depois de dedicar três anos à Organização Pan-Americana de Saúde, nos Estados Unidos. Agora é consultor concursado do Senado, onde pretende colaborar na produção de leis para aperfeiçoar o SUS. Lançou blog (jarbasbarbosa.blogspot.com) para discutir a saúde pública brasileira que, segundo ele, “vive etapa muito pouco crítica, com uma espécie de condescendência corporativa reinando e impedindo o debate”. A seguir, avalia o atual estágio da dengue.

JC – Último boletim do Ministério da Saúde apontou aumento de 76% nos casos de dengue no Brasil. Voltamos a perder a guerra para a doença?
JARBAS BARBOSA – Dengue é doença muito complexa. Parece conversa de sanitarista para explicar fracassos da saúde pública, mas, nesse caso, é pura verdade. O Aedes aegypti encontrou condições extremamente favoráveis para sua multiplicação na vida moderna. São necessários programas permanentes de prevenção e controle, incluindo fortíssima mobilização social, o que representa enorme desafio. A maneira de avaliar o que está acontecendo com a doença não é simples. A redução do número de casos de um ano para o outro não significa êxito nas ações de controle.

JC – Como assim?

JARBAS – A transmissão da dengue é tão rápida que o surto num verão é suficiente para reduzir drasticamente o número de pessoas suscetíveis àquele tipo de vírus no ano seguinte. A diminuição no número de casos produz falsa sensação de que a doença está sob controle, mas se a população de mosquitos continua a mesma, é só uma questão de tempo para que outro vírus produza novo surto. A melhor maneira de saber se o programa de controle da dengue está funcionando é monitorar as larvas do mosquito. Não creio que perdemos a guerra, mas a batalha tem que ser permanente. Quem relaxa, pensando que o problema acabou, perde feio da dengue.

JC – Por que o vírus DENV1 volta a atingir a população?

JARBAS – O DENV1 e o DENV 2 circularam no Brasil, com muita força, há dez ou 15 anos. Nos anos seguintes, como não havia mais pessoas suscetíveis, foram substituídos pelo DENV 3. Agora, todas as crianças que nasceram posteriormente àquela circulação dos vírus 1 e 2, e que não tiveram contato com eles, estão adoecendo. O DENV 2 já havia propiciado surtos de 2007 a 2009, e agora, o DENV 1 é o principal responsável pelos casos de 2010, por esse mecanismo de ressurgimento. Daqui a alguns anos, vamos ter, de novo, surtos pelo DENV 3.

JC – Ambientalistas consideram a dengue fruto do desmatamento. O uso de larvicida químico em substituição ao biológico, determinado pelo Ministério da Saúde com apoio da Opas, não faz a natureza e o homem pagarem duplamente pelo problema?

JARBAS – Não é só o desmatamento, mas a formidável adaptação do Aedes aegypti às condições ambientais em que vivemos. Basta um vaso de planta, uma calha entupida, uma sacola plástica descartável para oferecer novos criadouros. Cerca de 80% das pessoas vivem em área urbana, muitas em habitações precárias, sem coleta de lixo e com acesso intermitente a água encanada. Além disso, 30% da população não permitem vistoria em suas casas. Se houver larva nos 30%, o trabalho será ineficaz, mesmo que nos 70% tenha sido magnífico. O larvicida e o inseticida continuam importantes, são necessários, mas não suficientes. Larvicidas químicos usados atualmente não oferecem risco à saúde, desde que seja observada a recomendação técnica de forma estrita, para evitar abusos como o do fumacê, que pouco ou nada acrescenta, exceto em situação muito específica de alta transmissão.

JC – Não seria mais lógico fazer campanha em favor das florestas, do saneamento básico, da educação e do uso de métodos não agressivos ao ambiente ?

JARBAS – Concordo inteiramente que ação mais decisiva para melhorar a infraestrutura urbana, principalmente no acesso à água encanada, retirada do lixo, fiscalização sobre pontos de alto risco e informação para que cada família saiba como manejar seu próprio ambiente doméstico, faria diferença tremenda no controle da dengue.

JC – Quais as perspectivas mundiais ?

JARBAS – A dengue é uma doença em expansão porque as condições favoráveis ao mosquito são globais e não existe intervenção ou ferramenta capaz de erradicá-la. Por outro lado, é possível mantê-la sob controle, com combinação inteligente do trabalho dos agentes de saúde ambiental com a mobilização comunitária e as intervenções do poder público no espaço urbano. Além disso, é fundamental preparar serviços de saúde para identificar rapidamente os casos tendentes ao agravamento, para evitar mortes. Há vacinas em estudo. A mais próxima de virar realidade ainda deve demorar pelo menos uns cinco a sete anos.

JC – O senhor comandou por mais de uma década o setor de epidemiologia no Ministério da Saúde, criando novos instrumentos de ação. O que impede Estados e municípios de praticarem boa vigilância das doenças?

JARBAS – Nos últimos anos melhorou muito a capacidade do Brasil em vigilância. Recursos foram aumentados, criaram-se cursos, fortaleceram-se laboratórios de saúde pública. Mas há muito que melhorar. Infelizmente, somente quando surge epidemia de dengue ou de gripe os tomadores de decisão reconhecem que a vigilância é essencial. Porém, em épocas sem surtos ou epidemias, sempre há disputa por recursos da saúde. Creio que num sistema descentralizado, como o SUS, um dos grandes papéis do ministério é apoiar tecnicamente os Estados e municípios, e, monitorar se as ações de vigilância estão sendo realizadas. No Brasil, a capacidade de implementar ações e o compromisso político entre os mais de 5.500 municípios têm variação imensa.

JC – Das áreas do controle da dengue – vigilância ambiental, epidemiológica e assistência médica – qual a mais fragilizada no Brasil?

JARBAS – Um bom programa de controle da dengue exige integração. O trabalho de campo para eliminar focos tem que estar integrado com a epidemiologia, que conta os doentes. Já assisti a situações, em municípios do Sudeste, onde a vigilância epidemiológica produzia mapas lindíssimos, mas a ação dos agentes de controle de vetores continuava com programação burocrática, feita seis meses antes, sem agir para controlar os epicentros de surtos. A assistência médica também é fundamental. Com a sucessiva circulação de vários vírus no Brasil, a taxa de casos graves e hospitalizados cresceu, entre 1998 e 2008, de 2,7 para 22,2 por 100 mil habitantes, aumentando a tendência de impactos sobre os serviços de saúde e de mortalidade.

JC – O Brasil pesquisa sobre dengue. Há experiências simples e exitosas em diferentes Estados, como aspiradores de mosquito, ovitrampas etc. Por que não é possível massificar as soluções?

JARBAS – Infelizmente, não só para a dengue, mas em saúde pública nossa capacidade de testar, com rigor científico, as soluções inovadoras e ver o que efetivamente pode ser incorporado ao dia a dia dos programas ainda é muito falha. Não existe a integração que seria desejável entre os centros de pesquisa com as necessidades do sistema de saúde. Na busca de dar “boa notícia”, pesquisadores anunciam coisas absolutamente inviáveis, como o uso da borra do café para matar larvas, entre muitas outras que colecionei nesses anos.

JC – No blog que acaba de lançar, o senhor diz que “En salud publica, hay que ser pesimista, pero sin perder el tesón jamás”. Por que ser pessimista é importante?

JARBAS – Essa frase é originada do pensamento formulado pelo filósofo e ativista italiano Gramsci, que disse algo como “a razão deve ser pessimista e a vontade deve ser otimista”. Em saúde pública, análise fria e embasada tecnicamente jamais pode ser substituída pela ‘torcida’. Na pandemia de influenza, isso ficou muito claro. Ministérios que confundiram realidade epidemiológica com sua ‘torcida’ para que a pandemia não chegasse a seus países, não se preparam e tiveram centenas de mortes evitáveis. Na dengue, é semelhante. Avaliação de riscos deve sempre checar os piores cenários possíveis. É o momento do pessimismo. Na hora da ação é que se deve colocar a vontade e a garra que movem a saúde pública.

sábado, 22 de maio de 2010

Estatísticas de Saúde 2010

A Organização Mundial da Saúde (OMS) disponibilizou as Estatísticas de Saúde 2010. Está disponível nas 6 línguas oficias da OMS e traz um conjunto de indicadores de mortalidade e carga de doenças; mortalidade por causas específicas e morbidade; doenças infecciosas selecionadas; cobertura dos serviços de saúde; fatores de risco; força de trabalho, infraestrutura e medicamentos essenciais; gastos com saúde; desigualdades em saúde; e demografia e estatísticas socioeconômicas.
Apesar de problemas com algumas estimações, é uma fonte valiosa porque permite comparações entre países, sendo uma publicação essencial para sanitaristas, epidemiológos, interessados em saúde global e afins.
Você pode acessar os arquivo clicando aqui

terça-feira, 11 de maio de 2010

A Saúde também pode mais.

A Folha de São Paulo publicou hoje (11/05) um excelente artigo de Renilson Rehem com o título de "A Saúde também pode mais".
O artigo faz um balanço dos avanços do SUS nos últimos anos e aponta desafios importantes, como o subfinanciamento agudo que impede, na vida real, o acesso universal e integral da população, como manda a constituição.
O artigo é posicionado politicamente e convida ao debate de idéias sobre as prioridades para a saúde no Brasil nos próximos anos. Algo muito bom, e raro, nesses tempos de condescendência e de falta de espírito crítico.
Quem é assinante da Folha ou do UOL pode acessar a íntegra do artigo clicando aqui.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Pandemia de Influenza, atualização semanal da situação das Américas

A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) divulgou a nova atualização semanal da situação da pandemia (H1N1), com dados até o dia 3 de maio, recolhidos dos Ministérios da Saúde.
Em resumo, a situação é a seguinte:
Na América do Norte, as doenças respiratórias agudas continuam com comportamento estável e com ocorrência menor do que o esperado para essa época do ano, na maioria das áreas. [comentário meu: Depois da ocorrência de 2 picos, nos EUA e Canadá, e 3 no México, em 2009, além da vacinação massiva, a transmissão está muito baixa. Esse cenário persistirá, caso se mantenha a estabilidade do vírus A H1N1].
Nos países do Caribe foram notificadas tendências decrescentes ou sem alterações, para as doenças respiratórias agudas, exceto para a Jamaica, que informou tendência crescente. [comentário meu: no Caribe não existe inverno bem marcado o que não facilita a ocorrência de picos na transmissão dos vírus da influenza. O risco para esses países é a ocorrência de surtos em navios de cruzeiro, que podem sobrecarregar o sistema de saúde das ilhas menores, particularmente para leitos de UTI e respiradores].
Na América Central, El Salvador, Guatemala e Panamá informaram que há uma tendência crescente de doenças respiratórias agudas. [comentário meu: a América Central tem características para a transmissão dos vírus da influenza semelhantes ao Caribe e à área tropical e subtropical da América do Sul. Não se observam picos importantes de transmissão ao longo do ano. A preocupação deve ser manter a vigilância para identificar a ocorrência de surtos que, mesmo com um número não muito elevado de casos, podem produzir casos graves e mortes, sobrecarregando os sistemas de saúde e produzindo pânico na população].
Os países da América do Sul notificaram tendências decrescentes ou sem alterações para as doenças respiratórias agudas, exceto na Bolívia, que informou uma tendência crescente. [comentário meu: a preocupação para a América do Sul deve ser a chegada do inverno na sub-região do Cone Sul. No ano passado, foi nessa área, especialmente no Chile, Argentina, Uruguai e Sul/Sudeste do Brasil onde ocorreram picos importantes, com a produção de muitos casos graves e mortes. É impossível prever se, depois do primeiro pico, em 2009, onde estima-se que de 15% a 20% da população pode ter sido infectada, e das campanhas de vacinação realizadas, haverá um segundo pico e qual será a sua intensidade. Caso se repita o observado na América do Norte, o segundo pico deverá menor que o primeiro. Entretanto, em saúde pública deve-se ser pessimista, como diz a máxima desse blog, e é bom revisar o estoque de equipamentos de proteção individual para os profissionais de saúde, kits de laboratório, oseltamivir e todos os itens dos planos de contingência].
No Canadá, Chile e Estados Unidos, 95,8% dos virus de influenza A subtipificados foram
de influenza pandêmica (H1N1) 2009. [comentário meu: continua a valer a orientação de que adolescentes e adultos com sintomas de gripe devem ser tratados como portadores do vírus da influenza pandemica. O "erro" produzido pelos poucos casos de gripes por outros vírus de influenza será tão pequeno, que não se justifica esperar por exames confirmatórios].
Foram notificadas 41 novas mortes confirmadas pelo novo vírus, em 6 países. No total, desde o início da pandemia foram registradas 8.357 mortes na Região das Américas. [comentário meu: essas mortes recentes, geralmente em áreas tropicais e subtropicais, em sua maior parte são reflexo da falta de acesso oportuno aos serviços de saúde e ao tratamento com o oseltamivir].
O boletim completo pode ser visualizado se você clicar aqui

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Algumas informações sobre o blog

Prezados
Algumas pessoas me escreveram e-mails informando que não estavam conseguindo postar comentários. Creio que resolvi isso mudando algumas configurações, mas vou testar para ter certeza. Problemas de blogueiro de primeira viagem.
Em troca de e-mails com o Gilson Carvalho, ele pergunta quem é o autor da frase "En salud publica hay...". O autor sou eu mesmo, mas nela não há muita criatividade. É somente a adaptação de um pensamento do Gramsci (aquele sobre o pessimismo da inteligência e o otimismo da vontade) à realidade da saúde pública, "embrulhada" como a célebre frase do Che ("hay que endurecerse....").
A idéia dessa frase nasceu em uma apresentação que fiz na OPAS para a Ministra de Saúde da Espanha, sobre a situação da influenza nas Américas. Quando ela me perguntou como explicar a diferença de resultados na resposta dos países, respondi algo parecido com essa frase, explicando que os que se prepararam para o pior, foram bem sucedidos, enquanto os que confundiram sua torcida ("aqui não vai chegar") com a necessária avaliação de risco epidemiológico, se deram muito mal. Ou melhor, sua população se deu mal, como demonstrado pelas mortes absolutamente evitáveis que deixaram ocorrer.
Uma idéia excelente do Gilson foi de preparar um texto sobre o papel da epidemiologia no planejamento do SUS e publicar aqui para que debatamos o tema. Outras contribuições serão muito bem-vindas.