Teste

En salud publica, hay que ser pesimista, pero sin perder el tesón jamás.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Os males da saúde

O jornal O Globo de hoje (27/7) publica matéria intitulada "Mal da Saúde não é só falta de verba". O tema é, sem dúvida, um dos mais importantes para o debate político do momento eleitoral que vivemos.
Alguns pontos sobre a matéria:

  1. Não conheço esse estudo do Denasus que aponta a má gestão como o principal problema do SUS. Busquei no sítio eletrônico do Denasus e no do Conselho Nacional de Saúde (que parece foi quem o divulgou) e não encontrei.;
  2. Não acredito que os auditores do Denasus tenham capacidade técnica para realizar avaliações de desempenho de sistemas de saúde que permitissem algumas afirmações que se atribuem a esse estudo. Esse tipo de relação causal simplória que alguns desses "estudos" estabelecem, rebaixa a discussão que deve realmente ser feita sobre a má qualidade dos serviços de saúde no país. 
  3. Pelo que foi divulgado, por exemplo, utilizaram indicadores de mortalidade, que no Nordeste devem ser olhados com extrema cautela pelo sub-registro e pela má qualidade da informação. O aumento de casos de doença de notificação, que parece também foi utilizado como sinal de "má gestão", pode ser interpretado, ao contrário, como melhoria do sistema de vigilância epidemiológica. Ou seja, análises simplistas não funcionam para problemas complexos.
  4. A discussão sobre a "má gestão" e a "falta de recursos" lembra a antiga propaganda que perguntava se uma certa bolachinha era crocante porque vendia muito ou vendia muito porque era crocante. A bolachinha, na verdade, era crocante e vendia muito. Em nosso caso, infelizmente, também é flagrante a falta de recursos e há também graves problemas de gestão. Estes últimos, por sinal, não são exclusivos do setor saúde, como parte dos adversários do aumento de recursos para o SUS tentam nos impingir.
  5. A falta de recursos na saúde, em nosso país, é um fato, por qualquer indicador que tomemos. A verdade é que é impossível cumprir os preceitos constitucionais para a saúde com o grau de inversão de recursos públicos existentes. Uma consulta rápida no sítio eletrônico da OMS sobre contas nacionais mostra bem essa realidade. Os gastos com saúde como percentual do PIB representam 8,4% no Brasil, 6,2% no Chile e 10,0% na Argentina. Parece que estamos bem, mas na verdade, enquanto no Chile 41,9% dos gastos com saúde são privados, e na Argentina 49,2%, no Brasil esse percentual atinge 58,4%. Ou seja, mais da metade dos gastos com saúde em nosso país vêm de gastos privados, a maioria deles provindo das classes média e alta pagando planos privados de saúde e dos pobres comprando medicamentos. O gasto governamental per capita com saúde é de apenas U$ 348 no Brasil, contra U$ 507 no Chile e U$ 671 na Argentina. (Nota: todos os dados são do último ano disponível, 2007 e utilizando dólares com paridade de poder de compra).
  6. Quando comparamos os gastos com saúde como percentual dos gastos totais do governo, a situação brasileira é igualmente vexatória. Enquanto na Argentina eles representam 13,9% e no Chile 17,9%, no Brasil são apenas 5,4% do total de gastos governamentais. Há algo na distribuição de prioridades brasileiras que necessita ser repensado. Lembrete importante: o Chile e a Argentina não têm sistemas de saúde com acesso universal, como o Brasil. Apesar disso, seus indicadores sanitários e de acesso a ações de saúde são melhores que os nossos.
  7. O aumento de recursos para o SUS, pelas três esferas de governo, mas basicamente pelos que têm hoje maior capacidade de aumentar gastos nessa área (o governo federal e os estaduais), é indispensável se quisermos modificar o quadro sanitário do país.
  8. Há problemas de gestão e são vários, desde a falta de sistemas modernos para monitorar e avaliar o desempenho do SUS, passando pela inexistência de gestores profissionais e chegando até a ausência de  metas claras que possam ser acompanhadas pela sociedade e evitem os factóides que os gestores de plantão sempre vão propor aconselhados pelos marqueteiros.
Esperemos que os candidatos a todos os cargos eletivos se posicionem com clareza sobre esse tema.

A íntegra da matéria de O Globo você encontra clicando aqui

Saúde e sustentabilidade

Uma pesquisa realizada pela agência Edelman, o "Estudo de Engajamento em Saúde", trouxe resultados interessantes para os formuladores de políticas em saúde pública.
A pesquisa foi realizada ouvindo 15.257 pessoas maiores de 18 anos, entre 24 de fevereiro e 8 de março, em 10 países: Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Itália, Japão, México, Reino Unido e Estados Unidos. Para alguns países, a amostra é representativa da população que acessa a internet.
Alguns dos principais achados são:

  1. A saúde junta-se ao meio ambiente como questão central para a sustentabilidade. Globalmente, 73% dos entrevistados consideram que é tão importante proteger a saúde pública como o meio ambiente. Não por acaso, esse percentual é maior entre os países em desenvolvimento. No Brasil o resultado foi 81%. Entre os desenvolvidos, apenas a Itália, com 78% ficou acima da média;
  2. 65% dos entrevistados afirmam que a sustentabilidade diz tanto respeito à saúde das pessoas como à saúde do planeta;
  3. A saúde pública e a pessoal estão convergindo em grau de interesse. 91% dos entrevistados se dizem engajados em saúde pessoal, 89% em saúde da família, 56% em saúde nacional, 55% em saúde da comunidade e 49% em saúde global. O engajamento em saúde pública é maior nos países em desenvolvimento (a pesquisa os chama de "mercados emergentes"), em adultos jovens e pessoas com maior escolaridade.
  4. As sete questões de saúde consideradas mais importantes, no nível pessoal e como problema de saúde pública foram: lutar contra o câncer (36%), garantir acesso a serviços de saúde (31%), prevenção de doenças(30%), eliminação global de doenças infecciosas(28%), resolução de problemas crônicos de saúde (22%) e o enfrentamento da obesidade (18%). A prevenção de doenças foi a prioridade nos países em desenvolvimento, enquanto o combate ao câncer ganhou nos países desenvolvidos.
  5. Informações e recomendações são importantes, mas não são suficientes para impulsionar fortes mudanças no comportamento em relação à saúde. A pesquisa detalha os fatores que as pessoas consideram importantes para motivar mudanças.
  6. Também é muito interessante que 61% dos entrevistados pensem que as empresas deveriam estar tão engajadas em preservar e melhorar a saúde pública e das pessoas quanto em preservar e melhorar o ambiente. Entretanto, apenas um terço acredita que as empresas cumpram bem seu papel nas questões de saúde.
  7. As pessoas acreditam mais que as instituições acadêmicas e as ONGs cumprem um papel adequado em temas de saúde, do que os governos, a imprensa, as escolas primárias e as empresas. Apenas na Índia e na China, o governo está bem avaliado. No Brasil, pouco mais de 40% acreditam que o governo faz bem sua parte.
  8. Há uma grande expectativa de que as empresas se engajem em temas de saúde, por meio de várias ações: assegurando que seus produtos e serviços relacionados com a saúde são acessíveis, comunicando riscos sanitários de seus produtos e serviços, ajudando seus empregados e familiares a terem uma vida mais saudável, informando a população sobre temas de saúde relacionados com seus produtos e serviços, desenvolvendo novos produtos e serviços para a manutenção e melhoria da saúde, ajudando a comunidade local, apoiando o enfrentamento da obesidade, contribuindo para a saúde global e participando das políticas de saúde pública.
Para acessar a íntegra dos resultados, clique aqui

[Esse post foi uma sugestão de Alice Mascena Barbosa]

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Iniquidades em saúde

Para os que se interessam pelo tema das iniquidades em saúde, estou postando um artigo editorial, recentemente publicado pelo Journal of Epidemiology and Community Health (JECH), que é fruto de uma oficina de trabalho sobre o tema, realizada em 2009, pelo Harvard Center for Population and Development Studies. Essa oficina foi organizada pela Prof. Nancy Krieger e tive o prazer de ser um dos participantes, ao lado de epidemiológos e outros profissionais que têm se dedicado ao tema, na América do Norte e do Sul. O artigo busca levantar alguns temas que merecem maior aprofundamento no debate sobre as iniquidades. Seu título é "Who, and what, causes health inequities? Reflections on emerging debates from an exploratory Latin American/North American workshop".
Para obter a íntegra você pode clicar aqui

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Epidemia e memória

O jornalista pernambucano Marcelo Robalinho defendeu dissertação no Mestrado em Comunicação da UFPE enfocando a dengue na mídia. A partir da epidemia de 2002, produzida pela chegada, nas terras pernambucanas, do DENV-3, o Marcelo analisa como a imprensa " vem construindo os sentidos sobre a doença ao longo da última década" e analisa "comparativamente as estratégias discursivas ao longo dos anos posteriores". Na dissertação, ele ainda explora "a questão da memória e de como as antigas pragas influenciaram - e ainda influenciam - os sentidos criados pela mídia ao abordar doenças infecciosas nos dias atuais." 
O tema é muito atual e interessante para todos que se interessam por saúde pública. Muitas vezes as relações entre imprensa e autoridades sanitárias parecem um jogo dos "sensacionalistas" contra os "escondedores". Várias autoridades acusam a imprensa de "sensacionalista", porque gostariam de transformar a mídia em uma espécie de boletim oficial que divulgasse apenas mensagens positivas. ALém disso, muitas vezes, escondem efetivamente seus erros e falhas. Autoridades mentindo, em nossa cultura, infelizmente nunca foi considerado como um grande pecado. O pior, entretanto, é se aceitarmos que se legitime a mentira sobre a situação sanitária.
A imprensa, por outro lado, muitas vezes é mesmo sensacionalista, por despreparo técnico para julgar as informações relevantes; por buscar estabelecer relações causais simplórias, ao gosto da maioria dos leitores; ou por vontade de vender mais jornais. Entretanto, como já se disse, o que devemos exigir é uma imprensa livre, e não a imprensa que só publique o que gostamos. E, a bem da verdade, nossa imprensa, em geral, tem uma atitude muito positiva com temas de saúde, às vezes até ingênua. Os exemplos são vários.
Estou entre os que concordam com a importância que a chamada "comunicação de risco", quando utilizada adequadamente, apresenta para uma moderna e eficaz ação de prevenção e controle de doenças. Muitas vezes, nós epidemiologistas e sanitaristas, não sabemos interpretar os anseios, temores, desconfianças e outros sentimentos que a sociedade apresenta diante de uma epidemia e que são refletidos na imprensa. Nossa reação, às vezes, é querem comparar essas reações subjetivas com dados e aí podemos dizer bobagens como " morreram apenas...", ou "essas mortes são em número menor ao que ocorreu no passado"..., ou ainda, "esses casos e mortes não configuram uma epidemia, apenas um aumento esperado"... e outras bobagens do gênero.
Quem quiser ler a dissertação do Marcelo, o que recomendo pela importância do tema e seriedade da pesquisa realizada, pode clicar aqui.