Teste

En salud publica, hay que ser pesimista, pero sin perder el tesón jamás.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Estudo mostra que uso de oseltamivir poderia ter evitado mortes de grávidas por influenza

O Brasil apresentou uma importante mortalidade de mulheres grávidas com influenza A H1N1, mais de 200 mortes, enquanto em outros países, como o Chile (para não comparar com países desenvolvidos) os números foram muito menores. No Chile apenas 1 mulher grávida morreu pela influenza, o que produz uma taxa de mortalidade muito baixa, semelhante a do Canadá e de outros países que tiveram uma atitude mais agressiva quanto ao uso precoce do oseltamivir em todos os pacientes sintomáticos. Mesmo se calcularmos a taxa de mortalidade, para poder comparar populações tão diferentes, os dados do Brasil são exageradamente altos, inclusive em estados que não têm inverno bem marcado, como o Pará.
Recentemente, foi divulgado o primeiro estudo, com dados dos Estados Unidos, onde sugere-se que o tratamento precoce com o oseltamivir evitou mortes de mulheres grávidas. As famílias dessas mais de 200 jovens mortas certamente desejariam que no Brasil tivesse sido usado o mesmo protocolo.
Recomendo a leitura. O artigo completo que foi publicado no JAMA sob o título "Pandemic 2009 Influenza A(H1N1) Virus Illness Among Pregnant Women in the United States" pode ser visto se você clicar aqui

terça-feira, 13 de abril de 2010

Por que o Epidemiologia Casual?

Porque penso que é necessário criar um espaço para informar e comentar temas de saúde pública e de epidemiologia do Brasil e do mundo.
O "casual" do título tem um duplo sentido: pretendo escrever em linguagem casual, de maneira a ser entendido não só por meus colegas epidemiológos, e também porque quero contar e comentar alguns "causos" interessantes e que podem ajudar a compreender os temas que serão tratados.
O que for tratado aqui, o será de forma franca e direta, com base em informações e conhecimentos disponíveis.
Espero que vocês desfrutem e participem, enviando comentários para os temas que lhe interessarem.

sábado, 3 de abril de 2010

Mitos e verdades sobre as doenças crônicas

A Folha de São Paulo publicou na sua edição de domingo (25/04) um artigo meu sobre o tema das doenças crônicas. O texto integral segue abaixo:

No próximo mês de dezembro, as Américas contabilizarão a ocorrência de 21 milhões de mortes na primeira década do século XXI, por doenças crônicas. No mundo inteiro, a hipertensão, diabetes, acidente vascular cerebral (AVC), doenças cardíacas e cânceres já são responsáveis por 2/3 de todas as mortes que ocorrem, com alto impacto sobre os sistemas de saúde e sobre as sociedades.
Alguns mitos sobre as doenças crônicas distorcem a percepção social da sua gravidade e retardam o fortalecimento de programas abrangentes, integrados por medidas preventivas e de ampliação do acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento oportuno.
Esses mitos não resistem à análise dos dados e das evidências científicas disponíveis, como mostramos abaixo.
O primeiro mito é o de que as doenças crônicas matam pessoas que já são muito idosas. É falsa a idéia de que as mortes por doenças crônicas são sempre o desfecho natural de uma longa vida, especialmente nos países em desenvolvimento. Na Bolívia, quase 40% das mortes por AVC acontecem em pessoas com menos de 65 anos, enquanto no Canadá esse percentual é de apenas 8,6%. No Brasil, são 28,7%. Esses altos percentuais de mortes precoces revelam que portadores de hipertensão arterial não têm acesso ao diagnóstico e a tratamento, e que há problemas na qualidade do atendimento dessas emergências. Ambas as condições podem ser superadas com a adoção de estratégias adequadas.
Outro mito sobre essas doenças é o de que não temos como prevenir, já que não existem vacinas. Ao contrário, ações de promoção da saúde, de redução dos fatores de risco e de aumento da cobertura do diagnóstico precoce são capazes de prevenir a ocorrência e a mortalidade por várias doenças crônicas.
Estima-se, por exemplo, que a combinação de medidas regulatórias com campanhas educativas para reduzir a ingestão de sal - na mesa e nos alimentos industrializados -, evitaria 8,5 milhões de mortes no mundo, durante a próxima década.
Muito antes de surgirem vacinas contra o vírus do papiloma humano (HPV), vários países já haviam reduzido drasticamente a mortalidade por câncer cérvico-uterino, utilizando a estratégia de universalização do exame preventivo e o tratamento em estágio inicial. Nos Estados Unidos e no Canadá, esse tipo de câncer é responsável por 2,5 mortes por grupo de 100.000 mulheres, enquanto nos países da América do Sul, essa taxa é cerca de cinco vezes maior.
A redução da mortalidade por doenças cardiovasculares, verificada nas últimas décadas em quase todos os países do mundo, é outro exemplo do êxito de medidas para prevenir fatores de risco, como o tabagismo, combinadas com a melhora na atenção médica.
O terceiro mito é o de que as doenças crônicas são doenças de ricos, os países em desenvolvimento e os pobres ainda não precisam se preocupar com elas. Os fatos apontam para outra direção.
Os países de média e baixa renda respondem por 80% de todas as mortes registradas no mundo por doenças crônicas, e apresentam tendência crescente. A explicação não é difícil. Os principais fatores de risco para doenças crônicas, como o tabagismo, a obesidade, consumo deficiente de frutas e verduras e o sedentarismo, mostram tendência de crescimento nos mais pobres e menos educados.
Dados da recente Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad) revelam que, entre os que têm menos de um ano de instrução, apenas 9,5% praticam esportes ou exercícios físicos, e 25,7% fumam. Para comparar, entre as pessoas com 11 ou mais anos de estudo, 37% são ativos fisicamente, e o tabagismo reduz-se para 11,9%.
O diagnóstico precoce também é menos freqüente entre os mais pobres, que têm mais dificuldade de acesso aos serviços de saúde. Na Pnad encontrou-se que 25,3% das mulheres com mais de 40 anos, nunca fizeram uma mamografia. Essa média nacional, entretanto, esconde desigualdades importantes. Entre mulheres com renda maior que cinco salários-mínimos, 18,9% nunca fizeram esse exame. Porém, entre as de renda inferior a 1/4 do salário-mínimo, esse percentual é de 71,2%. Esse mesmo padrão iníquo repete-se em todos os exames preventivos para doenças crônicas, na maioria dos países da América Latina.
Urge romper esse círculo vicioso, que faz os mais pobres adoecerem mais por doenças crônicas, terem sua produtividade reduzida e seu gasto com medicamentos aumentado, o que contribui para aprofundar sua própria pobreza.
Os avanços já obtidos, e o conhecimento atual, exigem o fortalecimento das ações e a adoção de novas e mais efetivas estratégias para responder ao enorme desafio das doenças crônicas.

O link para o artigo está aqui